Falar de Marvione Macedo.

Mas o que falar neste momento dessa mulher que durante 20 anos convivi e conheci de perto? São tantas as emoções e as lembranças! E o sentimento de despedida ainda paira no ar!

Marvione foi figura ímpar em nossa cidade e durante toda sua vida foi considerada a guardiã de nossa cultura, sendo uma grande incentivadora da arte e da escrita, uma musa inspiradora e em suas mãos tudo virava poesia.

Sempre foi muito difícil fazer arte em Itapetinga. Falta apoio, falta sensibilidade por parte dos governos e muitas vezes falta platéia. E ao longo da história de Itapetinga em um dado momento nossos artistas foram desistindo, desanimando, recuando, alguns foram embora e Marvione se manteve firme como uma rocha, acreditando e defendendo sempre a classe artística e definia Itapetinga como “um celeiro cultural”.

Uma mulher sensível de coração e alma boa que encontrou na poesia sua maior expressão.

Marvione Morais Macêdo, filha do pecuarista Donaciano Macêdo e de Iracy Antunes Macêdo, de uma família numerosa, com muitos irmãos, dentre eles o médico querido Silvio Macedo. É mãe de Alexandre, seu único filho e pedra preciosa.

Marvione navegou por todas as esferas sociais dessa cidade, sendo professora aposentada pelo estado, construindo sua carreira profissional no Colégio Polivalente, onde fez grandes amigos e pode contribuir com a formação de milhares de alunos. Foi a 1ª colunista social do Jornal Dimensão assinando a página "Gente Fina". Durante o tempo que ficou a frente dessa coluna criou o seu próprio circuito social, criou regras e expressões que foram eternizadas como, por exemplo, “Pecus Cap”, fazendo referencia a nossa cidade, na época capital da pecuária.

Marvione viveu uma Itapetinga glamorosa, com muitos bailes dançantes, eventos agropecuários e sociais foi uma socialite das mais badaladas e freqüentou o mais alto clã da sociedade itapetinguense e regional.

Na década de 80 promoveu no Coroas Country Clube a grande festa do Troféu Imprensa do Cacau, que contou com a presença ilustre de estilista Ney Galvão. Essa festa premiou diversas categorias da época e Marvione contemplou também pessoas simples como D. Silvina Pereira, na época lavadeira e participante ativa dos movimentos sociais da igreja católica.

Marvione foi secretária de Cultura deste município. Publicou dois livros de poesia: Recado e Andanças. Coordenou diversas antologias poéticas reunindo todos os poetas da cidade, aqueles conhecidos e também aqueles que viviam no anonimato, abrindo leques de possibilidades e alargando horizontes. Também participava com muita freqüência de antologias poéticas de editoras diversas.

Detentora de prêmios na Bahia e em outros estados tem poemas publicados em diversos países e em diversas línguas. Outros dos seus poemas foram musicados, inclusive na Europa.

Durante muitos anos esteve à frente da FACI – Fundação Associação Cultural Itapetinguense, lutando inclusive para manter a Biblioteca Dr. Orlando Bahia aberta ao público.

Desde o ano passado que Marvione organizava uma antologia poética, reunindo os poetas de Itapetinga que seria lançada no aniversário da cidade, fazendo parte das comemorações dos 60 anos da cidade. Essa iniciativa tinha o apoio da Prefeitura Municipal, que como sempre, por questões administrativas não tomou as providencias devidas para que o evento acontecesse. O material está pronto na editora e Marvione aguardava o grande dia do lançamento. Infelizmente ela morre sem essa realização.

Marvione se despede desta vida na tarde do dia 04, numa sexta feira de verão e nos deixa um grande legado e o exemplo de uma vida pautada no trabalho e na sensibilidade. Sem dúvida alguma morre uma mulher e nasce um mito que jamais será esquecido. Marvione será lembrada como sempre foi. Será homenageada como sempre foi, pelo reconhecimento de sua contribuição á nossa história.

Descanse em paz Marvi e muito obrigado pelos ensinamentos.


Por Manuel Neto